quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

4- O Cheiro do Ralo, do Lourenço Mutarelli

O Mutarelli foi uma surpresa boa no ano passado, quando li o primeiro (meu) livro dele, A Arte de produzir efeito sem causa. Supresa ou moléstia, congestão, crise de pânico, impulso pra fora da órbita, seus livros me pegam pelo estômago e deixam em outro estado de consciência por determinado tempo (que retorna sutil quando me lembro deles).
Sua escrita é muito ágil, entrecortada por pontos e referências. De Burroughs a cartas de tarô, o cara sabe de muita coisa estranha e constrói um mundo à parte. Talvez melhor: ele mostra o seu mundo, já que ele próprio pertence ao universo de que escreve e normalmente é o protagonista de suas histórias.
O Cheiro do Ralo é assim. Construída em primeira pessoa, a narrativa se dá pela visão do personagem principal (mais uma vez sem nome), um comprador de objetos antigos/ raros/ excêntricos, que vive atormentado pelo cheiro do ralo do banheiro de sua loja e passa a relacionar todos os seus problemas ao odor que sai do esgoto. Além disso, ele se apaixona por uma bunda, compra um olho de vidro e começa a reconstruir o corpo do seu pai.
A ideia inicial não era essa, mas o Mutarelli virou ator do filme (o segurança), o que deu outra cara à versão. 
Eu colocaria nesta lista outros livros dele (principalmente A Arte de produzir efeito sem causa e O Natimorto, que acabou de ser lançado no cinema), mas achei melhor optar por este pra justificar minhas outras escolhas.
Não podia deixar de fora, já que virou tema do meu projeto de mestrado. O livro e o filme.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

5- Comer, Rezar, Amar, da Elizabeth Gilbert

A escritora faz um relato da sua viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia à procura de respostas a questões sobre si mesma (por acaso, muito compartilhadas) logo após um divórcio traumático. Na Itália, se permite desfrutar do prazer (daí se exclui o sexo), da comida e do idioma. Na Índia, passa meses em um ashram para rezar e descobrir a si mesma. Em Bali, ela vai procurar um xamã que conheceu havia dois anos e que, lendo sua mão, dissera que se reencontrariam.
Está demorando pra eu admitir que esteja lendo um livro classificado como autoajuda, mas isso, obviamente, depende do viés de que se olha para ele. O problema está no mercado que estampa na capa suas características de autoajuda: milhões de cópias vendidas (4), tempo em que figurou entre os mais vendidos no New York Times (1 ano), além de um fingido subtítulo "Seja também a heroína de sua própria jornada". Esse último é imperdoável. Tanta gente que lê essas coisas achando que sirvam de modelo pra sua própria vida. A escritora, em uma entrevista a um programa dos Estados Unidos, disse que leitoras escrevem pra ela dizendo "Olha, já fui pra Itália, comi a pizza de que você falou, e agora?". Dá licença, né?
Enfim, a autora constrói a obra a partir dos seus pensamentos, das suas experiências, que dialogam com muitas referências filosóficas e da ioga sem pretender se aprofundar nisso, mas que mostram a partir de quê ela pensa. Achei bastante interessante, li muito rápido, a linguagem é fácil, descontraída (apesar das piadinhas estadunidenses que não fazem muito o meu estilo de graça) e apresenta coisas novas, paisagens, pessoas. A revisão é um pouco fraca. Acho que na tentativa de tornar a leitura "fácil", relaxaram na gramática.
Este eu elegi por ser diferente das leituras que faço normalmente. Também me permiti esse pecado.

Os cinco topos do ano

Ao invés de top five, elegi os cinco livros do topo deste ano, baseados, é claro, nas minhas leituras.

As cinco boas coisas de ontem

1- Ter chegado na casa dos meus pais pra passar uma semana (coisa que não faço há anos)
2- Ser recebida pela Iaiá com a costumeira festa, pulos e gritos
3 - Continuar a ler meu livro de autoajuda (já falo dele)
4- Sair com minhas primas engraçadíssimas pra falar besteira e discutir assuntos filosóficos (literalmente)
5- Tomar um Rimbaud (em que, por sinal, vai Absinto)

As cinco boas coisas de antes de ontem

1- Tomar banho ouvindo o último cd do Cidadão Instigado que baixei na noite anterior
2- Chegar ao trabalho e encontrar um café da manhã coletivo com gente muito animada
3- Ter conversado sobre mil coisas com a Claudinha e pensado, juntas, em um Clube do Livro com as pessoas do trabalho
4- Dar muita risada com a Ju e a Gabi
5- Sair com amigos e voltar pra casa dançando dentro do carro

sábado, 31 de outubro de 2009

pra mais hora

Há tempos que não escrevo e tenho pensado sobre isso.
Blogues são desafiantes, e digo: quando alguém entra em seu endereço, lê logo a última postagem. Se for interessante, fica, se não interessar, vai embora e nunca mais volta.
Assim, acredito que nada haja de interessante para dizer por ora. Se persistir, volte mais tarde. Muito mais.

domingo, 20 de setembro de 2009

Berlim, Londres, Campinas, São Carlos

Sempre quis manter um blogue, mas nunca achei que tivesse algo de interessante pra escrever (ou para que os outros lessem). Durante a viagem me senti com maior liberdade pra contar o que via e o que pensava a respeito das coisas, mas agora me parece que as minhas viagens seriam maiores exposições. Escrever é se expor.
Em Paris pensei em apagar tudo o que tinha escrito, mas é tão legal saber que seus amigos estão lendo aquilo. É uma forma de comunicação.
Sobre o tour eu ainda tenho muito o que contar, mas já não parece fazer sentido faze-lo por aqui estando de volta a terras tupiniquins.
Me senti muito mais estimulada para voltar ao francês. Na sexta a aula foi boa. Tenho recuperado muito do que havia esquecido.
Ah! Dicas de Berlim: 1) bebam Jagermeifter (se lê iagamáister), uma bebida amarga, estilo vernet (não sei se se escreve assim), mas não muito! Uma dose é boa, duas é melhor ainda. A partir da terceira eu já não me responsabilizo.
2) O Hamburger Bahnhof (museu de arte contemporânea) também é muito interessante. Tem trabalhos ótimos! Entre eles, Beuys, Nam June Paik (enfim!!!), Andy Warhol (não, não, não me interessa tanto assim) e muitos outros legais.
3) a tal da squat de que eu já falei. Fica próxima à Friedrichstrasse. Lá tem um bar chamado Zapata onde rola música ao vivo, cinema, trabalhos de alguns artistas (nada muito interessante), outros bares. Muito legal!
Não comi um apfelstrudel!
Descobri mais ainda que eu amo mostarda! Vou mudar minhas compras da moutarde à l'ancienne pra de dijon.
Em Londres tive a impressão de que vi muito pouca coisa. Foi ótimo conhecer o cantinho da Mora! Logo que chegamos fizemos um almocinho. Que saudade dos tempos antigos!
Saindo do metrô, dei de cara com o Big Ben, que não é tão big quanto eu pensava, mas bem.
Na primeira noite fizemos um rolezinho pelos pubs. Interessante.
Lá as pessoas não se misturam tanto, mas também penso que porque não abrimos espaço pra isso.
Londres é uma loucura! Acho que uns 20% dos que vi por lá eram ingleses. O que mais circulam são outras línguas, outras caras.
Na estação London Bridge existe uma balada chamada Shunt. São galerias subterrâneas (que cheiram a mofo), corredores de tijolo à vista onde vários artistas criam e expõem seus trabalhos. Em outros espaços maiores rola som ao vivo. Nunca vi nada parecido! Melhor ainda que uma conhecida da Morena trabalha lá. Entramos de graça e ganhamos cerveja.
Realmente, muitos dos ingleses bebem e ficam insuportáveis!
O Tate Modern é demais! Passei mais boas horas por lá pra não ver tudo, como sempre.
Episódio Joseph Beuys
Fico extremamente irritada com pessoas que passeiam em museus como em shoppings. Sou chata mesmo, peço pra fazerem silêncio. Notei que não são só os brasileiros que são sem noção.
Pois bem, lá estava eu em frente ao Joseph Beuys (a um trabalho dele cujo nome depois eu coloco aqui), tentando sentir ou entender o que raios eram aquelas coisas amorfas no chão, quando ouço três mulheres fazendo um alvoroço. Dessa vez eram brasileiras. Ultrapassando a sala, olhando o trabalho malemá de canto de olho, uma diz: Veja lá se isso é arte! Parece um monte de cocô de cavalo!
Pensei em esbaforir mais da minha chatice, mas achei melhor ficar quieta pensando. Preferia que fosse cocô de vaca. É mais cheiroso.
O British Museum é um saco (museuzão antigão, cheio de objetos, obras e pessoas mortas roubadas de outros países)! A pobre da Cleópatra tá lá toda enrolada! Tem resto de gente conservada desde 250 anos antes de Cristo.
A National Gallery é bem bacana, mas entediante. Só pinturas. Muitas delas! Eu já estava cansada de 3 semanas de museus, com pouco tempo, liguei pra Dani e perguntei: Aonde eu vou pra andar, ver gente? Me esqueci o nome do bairro (é composto). Bem legal! Depois eu conto. Tem umas feiras de mil coisas: roupas, acessórios, bugigangas, etc. Lugarzinho descolado, meio underground pero no mucho.
Não tomei o five o'clock tea!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Wor(l)ds

Va la! Comecemos pelo comeco (mais uma configuracao de teclado). Sai de Paris ansiosa pra me encontrar com a Mora, AMIGA que nao via ha ano e meio. Fui para a estacao de trem com o burrico nas costas e la nao havia onde sentar. Essas estacoes mais parecem com rodoviarias, quase nao ha controle algum.
Fui pra Amsterdam contando os minutos.
O quarto do hostel ficava no segundo andar. Subi as escadas com a mochila e comecei a me enganchar no corrimao (um pouco alto para os padroes), a tombar, e um carinha que vinha atras me perguntou se eu queria ajuda, disse que nao, perguntou se estava tudo bem e eu gargalhando, pensando que ele imaginava que, mal chegada a cidade, ja estava nas alturas com alguma substancia.
Tive que me desfazer do peso antes de dar um abraco na Mora. E digo que a viagem foi o que (ou mais) eu esperava dela, afinal, como poderia ser com Morena Madureira e Maluzinha Reigota, minha modelo renacentista?
Os canais que costuram a cidade sao lindissimos e nos andamos muito recortando o mapa por ali. Mas, eh claro, dois dias sao muito pouco.
Passamos a madrugada no aeroporto compartilhando um MP3. Malu voltou pra Londres e Mora e eu rumamos pra Berlim.
No aviao passamos por uma pegadinha. Um japones muito doido se fingindo de aeromoco (isso, eh claro, eh uma hipotese levantada pela Morena).
Essa viagem quebrou com a vaga ideia que eu tinha da Alemanha. Os alemaes sao mais calorosos do que eu pudesse imaginar e as coisas parecem mais calmas, mais comuns do que eu supunha.
Conhecemos uma squat que fica a dois quarteiroes do hostel. Squats sao casas ocupadas, que se tornam moradia ou - como nesse caso - centros culturais e afins.
O predio foi um shopping judeu e, durante a Segunda Guerra, se tornou um ponto nazista que foi bombardeado. Durante a Guerra Fria, a construcao (assim como muitas outras localizadas na Alemanha oriental) foi abandonada. Com a queda do Muro de Berlim, o espaco foi ocupado pra se tornar um centro cultural. Hoje ha alguns bares em diferentes andares e na parte de tras (quintal) e exposicao do trabalho de varias pessoas. Muito interessante! Acabamos indo la duas noites seguidas. Conhecemos um pessoal que mora na cidade e que tirou algumas das nossas muitas duvidas.
Conheci um berlinense que conhece a Christiane F. ("13 anos, drogada e prostituida", lembram dela?). Especie de heroina aos meus 15 anos.
O unico (e grande) problema nosso la foi o idioma. Eh horrivel estar em um lugar onde nao se pode comunciar, se expressar, entender as placas, o que as pessoas, os cardapios e anuncios dizem. Talvez por isso tenhamos achado que la faltam informacoes sobre tudo (mas ainda acho que nao so por isso). A configuracao da cidade eh mesmo muito diferente.
Na minha vida eu pensava em estudar alemao pra ler Sociologia. Hoje talvez eu pense em outro uso pra ele.
Agora em Londres, saio.
See you later!

sábado, 5 de setembro de 2009

Tempo

Ops, caros. Nao tenho tido tempo (nem acento) suficiente pra escrever.
Amsterdam eh uma cidade bem interessante, mas dois dias nao sao suficientes nem para se conhecer as redondezas do seu quadrado.
A paisagem que mais vi foram bicicletas caidas nas ruas. As pessoas as deixam soltas nas calcadas e na cidade venta muito. O transito eh caotico e o pedestre eh o ultimo a ter preferencia. Em primeiro, os trens, em segundo, ciclistas, em terceiro, carros, em quarto, pombas. Por ai segue...
Ca a Berlim chegamos ha pouco, Mora e eu.
Cada vez me ficam mais claras minhas formas de percepcao das coisas. Estar em cada lugar eh sentir o fluxo, reconhecer o comportamento das pessoas, seus gostos, costumes, seus cheiros.
Eh bom andar pelas ruas menos movimentadas, ver os pais com as criancas, os idosos, adultos, jovens, todos. E, claro, sempre que possivel conversar com alguem dali.
Aos poucos eu escrevo...
Saudade de muitos.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

La journée

Hoje o dia acordou chovendo, preguiçoso. Enrolei um pouquinho por aqui até tomar coragem pra fazer o que tinha me disposto a: ir ao Musée d'Orsay e ao quai du Branly. A fila tava das grandes e eu me senti como uma criança acompanhando a mãe ao banco num dia de vencimento de contas.
Depois de ter tido alguns pequenos contratempos fisicos na vida (sempre com a coluna), penso que nosso modo de estar no mundo se deve muito a essa relação. Esse estado de dor limitou minhas visitas hoje. O que foi bom, porque consegui não passar de 2 horas em um mesmo museu e vi - mais ou menos - o que queria. De qualquer forma, tudo eu não veria mesmo. Com o Louvre e o Pompidou mesmo estou em grande desvantagem. Pois bem, d'Orsay da hora. Descobri que eu nunca havia sabido o que era Van Gogh. Puta que pariu! Os outros são bons, sim, mas nada de se alarmar. Do Toulouse Lautrec eu gostei muito também. Pelo resto (fora Monet, Degas, os varios nascimentos de Vênus) passei na marcha atlética.
Branly. Ahhh, Branly! Objetos não indexados expostos com proveniência de: Asia, Africa, Américas e Oceania. Além disso, uma exposição temporaria sobre o Tarzan. é de foder, né? Bom, se fosse, talvez seria melhor (haja vista meu gosto por determinadas obras). A começar pela escolha do dito, você sobe pro mezanino e da de cara com um chimpanzé gigante, ursinhos de pelucia (que, sabe-se la o que têm a ver com o personagem), bonecos do Tarzan (estilo um Ken da Barbie), etc. Na saida, tomada pela minha chatice crônica, eu tive que deixar minhas observações no caderno de recados da recepção.
Comprei um Bordeaux pro seu Marinho e voltei. Acabei de experimentar uns macarrons. São docinhos parecidos com um minihamburguer. Existem de varios sabores e são levinhos, bons.
Hoje me dei conta de que eu não escrevi sobre a torre Eiffel. Foi legal, mas, realmente, não é o tipo de lugar pra se pedir alguém em casamento.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Le lundi

Estou comecando a gostar realmente deste lugar (cada teclado aqui eh de um jeito e ainda ontem a russa reclamava que nao conseguia trocar a configuracao pra letras de la). Existem coisas magicas por aqui. A comecar pelos jardins, pequenas galerias, cafes, ate chegar aos museus e exposicoes, livrarias, bibliotecas.
Hoje de manha, conversando com o Patrick (o canadense, que eh arquiteto), resolvi fazer um dia fora dos museus. Sao apaixonantes, mas estou um pouco cansada deles, apesar de tambem ter andado muito por ai.
Fui a Biblioteca Nacional Francois Miterrand (opa! comecou a tocar a musica que eu mais gosto do Francis Cabrel: pra quem nao conhece, conheca). Sao quatro predios em forma de L que formam os vertices de um retangulo. Entre eles, um vao todo em madeira e jardim. Os edificios sao de vidro e o que seriam cortinas sao portas de madeira dobraveis, que fazem com que, dependendo da luminosidade, clima e vontade de quem esta dentro, os predios fiquem com uma aparencia diferente. Mas estava fechada. Ate parece que ninguem estuda de segunda!
As livrarias daqui sao pirantes! Da proxima vez eu alugo um container pra mandar os livros pra la. Muita coisa de cinema, arte, fotografia, etc. A moca que trabalha no Cafe Bibliotheque, no mesmo predio, me disse que talvez eu encontrasse o que procurava na livraria da cinemateca. Boa ideia.
La entrei, procurei meu Rancierezinho. Enfim achei Le destin des images. Dei uma breve olhada ao redor e, quando estava pra ir embora, resolvi subir pra ver quale que era a do acervo. (Melina, como eu lembrei de voce!)
Ate agora eu estou quase que sem palavras (o que eh um paradoxo, ja que estou escrevendo). Aquilo eh demais! A moca (quse ruiva) que trabalha la me explicou tudo muito bonitinho (e eu entendi bonitinho tambem). Eles tem um sistema de busca em que voce consulta nao so o acervo da cinemateca nacional, mas de outras duas instituicoes. Livros, filmes, imagens, artigos, periodicos, etc, etc, etc. Demais! Alem disso, voce vai selecionando tudo o que te interessa, forma uma pasta sua a partir da qual voce pode buscar os arquivos e tirar copias. Anotei mil coisas (edicoes da Cahiers du Cinema desde o inicio!), mas, no fim, considerei que nao valeria a pena gastar mais umas horas e pelo menos 20 euros pra entrar na sala, tirar as copias e ter que carregar cerca de 100 paginas na sacolinha.
Aos poucos vai ficando muito obvia a diferenca das condicoes de pesquisa que se tem num pais como este. Volto a pensar em estudar aqui por algum tempo (quem sabe? depende da vontade e esforco que eu tiver quando voltar pra vida cotidiana, porque nestas condicoes eh facil pensar em mudancas).
De la fui au Jardin des Tuilleries. Tomei um chocolat a l'Ancienne na Angelina (indicacao do Patrick, que conhece as melhores docerias parisienses porque a namorada eh apaixonada por doces). Katia e Breno, quando vierem, voces vao adorar! Eh muito bom mesmo, mas deu minha cota de acucar pro mes (e ainda tenho que experimentar o creme brulle e os macarrons!). Ao meu lado, duas japonesas dondocas que so ficaram comentando sobre as pessoas que estavam ali.
Fiquei no jardim um certo tempo. Estava precisando disso. Foi bom.
Num restaurante, a mulher do casal sentado ao lado pergunta pro marido: o que aquela moca ali ta comendo? Ele: deve ser pesto. Eh, eu disse. E ele: voce entende? Sim, sou brasileira. E ela: ela estava escutando? Nao! Entendo mas nao escuto! E eu la sabia de que eles estavam falando? Ultimamente mal percebo quando tem alguem falando portugues por perto. Eh tanta lingua de uma vez. Mas, sim, eu a ouvi dizer que estava inchada.
Depois, la Tour Eiffel! Enfin!
A melhor decisao da semana foi ter escolhido a segunda-feira. Demorei 40 minutos ate chegar ao alto da torre (o que deve ser um recorde). Fui pra ver o por do sol. Depois disso fiquei esperando pra conferir o porque de ser a Cidade Luz. No que eu encontrei um casal de brasileiros, que engataram a conversa e la ficamos ate depois das 10h. Me ofereceram vinho, contaram da viagem pela Europa, deram dicas. Goianos. So podia!
Voltei.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dimanche

Hoje logo cedo resolvi ir à feira de que o Lala me havia falado (sim, Rodrigo Bulamah, você mesmo). Au metro de la Nation, me disse. La fui eu. Baldeia pra ca, baldeia pra la, à procura dos orgânicos (so pra ver, porque, é claro, eu nao ia cozinhar), queijos direto das fazendas, cidadãos franceses num ensolarado domingo de manhã, etc. Desci à la place de la Nation. Monsieur, est-ce qu'il y a un marché prêt d'ici? Non, madame. Pas aujourd'hui. Ahn... Merci!
Ai ele me indicou que pegasse o ônibus 86 até a Bastille que por ali haveria uma, grande. Resolvi ir a pé. As pessoas normalmente acham os lugares longe (aha! e ai esta novamente a questão tempo-espaço, porque num dia comum caminhar ate la seria impossivel).
No caminho encontrei um café muito simpatico, com donos jovens muito simpaticos tambem (hoje foi o dia de desinjuriar dos franceses). Dali a pouco, uma livraria pequenica, mas cheia de arte, cinema, filosofia. Rancière? Non. Guy Debord (desgraça!), oui, ali estava. Um grande amigo - que, ja dizia a critica, vale por mais de dez - me pediu para, se possivel, comprar l'Oeuvre. 1901 paginas. Pra quem esta viajando de mochila, não é um mero detalhe. Mas não aguentei. Imagino que esse livro no Brasil (não me lembro se existe tradução) valeria, no minimo, 4 vezes mais, o que, dependendo de um esforcinho meu, poderia ser economizado. E então passei o resto do dia com um quilo de feijão na mão (ja que na minha mochila cabe pouco mais do que minha câmera). Dalma, pra compensar isso você vai ter que, no minimo, me levar de cavalinho até o Gatti!
Cheguei a uma outra feira que nao a que o homem da la Nation me indicou, mas que também ficava na Bastille. Eu acho muito, muito legal ver tanto tipo de queijo (tem coisas com as quais eu acho demais não nos acostumarmos). Comprei um estilo de parmesão (ao menos pra mim é parecido), so que laranja. Um dos poucos que podem ficar fora da geladeira (quase engasgando nos érres, mas consegui fazer essa pergunta em francês).
Então fui pro Pompidou. Ah! Pra isso pedi informação pra mais uma das muito simpaticas pessoas do dia e, pra exercitar a mundana rotulação do mundo, estou elaborando um pressuposto de que francesas de cabelos vermelhos sempre são simpaticas (pra voltar para o hostel no fim do dia, mais uma vez tive essa confirmação).
De novo aquela surpresa de ah! que prédio grande! sera que é o Pompidou? Mas desta vez era.
Hoje a visita durou 5 horas. So vi a exposição temporaria Elles, com obras de artistas mulheres. Fantastica! (seria vergonhoso eu não falar isso depois de dizer que passei tanto tempo la). Uma das que mais gostei foi Heartbeat, de não me lembro quem - logo escrevo, mas não sou conhecedora das artes visuais e o nome dela ta la em cima no quarto (Nan Goldin). O trabalho é um video, com trilha da Björk (!), que exibe fotos de varios casais em momentos intimos, pré, durante ou pos-sexo. A composição é de uma sensibilidade tão grande! Tive a sensação de que toda a sala ficava entorpecida. Entre os casais fotografados havia um de adolescentes, um hetero entre os 30 e 40, um casal gay (de homens) e outro entre os 40 e 50. Tudo muito delicado e com uma luz muitissimo bem trabalhada. Nossa! Acho que um dos melhores que ja vi.
Havia também uma Lygia Clark ali. O Caranguejo. Imaginei que aquilo em movimento devia ser bem mais interessante.
Subi pro acervo permanente, mas não dei conta. Corri pra ver uns Picassos, Matisses, Mondrian, Miro, Modigliani, Lérger... mas não me atentei.
Na saida comprei o catalogo (Sérgio, era pra conversar com você a respeito). Quando cheguei ao hostel, abri pra rever algumas coisas e eis que! A maioria dos trabalhos que estão ali eu não vi!!! Como assim? Eu achei que tivesse visto tudo. E o Heartbeat não ta la não. Bom, ainda serve pra conversarmos. Alias, tem um (ou uns) que me lembraram muito o seu trabalho.
às 6h (nunca começo frases com à ou é em letra maiuscula porque se se aperta o shift, elas viram outra coisa) eu almocei/ jantei e achei que fosse ver o pôr do sol na Eiffel. Melhor deixar pra um dia de semana. Mas a razão maior foi a dor nas costas. Estou virando atleta por aqui, o que é bom, ja que a comida por aqui é tentadora. Se bem que mal tenho parado pra isso. Comer tem sido o momento de (além de comer, é claro) sentar, escrever alguma coisa, fazer mil expressões faciais achando que o garçon vai me entender assim e por ai vai.
Hoje conversamos mais no quarto. A nigeriana que eu havia conhecido no primeiro dia, uma russa muito gente boa e, agora, um canadense que perguntou is it a mixed room? Ao que eu respondi it wasn't 10 minutes ago, but now I think it is.

sábado, 29 de agosto de 2009

a novela continua

Em Barcelona descobri que eu tenho um tempo muito proprio (no fundo eu ja sabia, mas agora é consciente e eu passo a admitir isso). Nao gosto dessa historia de acordar, levantar, sair correndo pra chegar sei la aonde, voltar e por ai segue. Ainda mais aqui que o ritmo depende so de mim (e do horario das coisas, é claro, mas se eu perder, perdi). A vida deve ser experienciada.
Sempre soube que era balela essa historia de que se leva um dia pra conhecer o Louvre. Cheguei la pouco depois das 10h, sai as 5h30 (hora em que o museu fecha) e não conheci um sexto do acervo! Aquilo tudo leva uma vida inteira pra ser visto - e isso nao tem a ver com o meu tempo proprio, mas com o tanto que ha em cada peça.
Comecei pelas esculturas classicas. Parece que os fatos, os contextos começam a fazer sentido. é tanta historia concretizada bem na sua frente... inclusive o proprio fato de as obras estarem ali.
Muita coisa passou pela minha cabeça. Em primeiro, sobre a importancia de termos acesso ao patrimonio historico. Assim se adquire conhecimento. Em segundo, sobre o absurdo de haver peças de toda (ou parca) parte do mundo em uma instituição francesa. Dizem que tal peça foi encontrada em tal lugar. Mas como foi essa "descoberta"? Ali estah um pedaço de um muro com a palavra "restaurado". Se fosse realmente restaurado, não seria um muro? Mas então ele teria que estar em outro lugar.
Daqui a pouco vão começar a encontrar arte no Iraque pra ser restaurada.
Saindo de la, fui andando pela Rue de Rivoli à procura da Notre Dame (que, em portugues, nao passa de Nossa Senhora). Pra quem tem compulsao por compras, Paris pode ser perigosa.
Segui andando, pensava em perguntar onde ficava a igreja e via uma construção muito grande à minha frente, entao ficava com vergonha de perguntar sendo que podia ser bem ali. Passava na frente e nada! Dali a pouco, a mesma coisa. O problema é que a cidade em si é um monumento!
So tive certeza de que havia chegado ao lugar certo quando vi os monstrinhos com asas em cima da construção.
Sempre ouvi que na França os franceses não falam inglês. Segunda balela do dia. Eles não têm é paciência de falar francês com quem não tem fluência. So o Mohammed é que me incentiva. Mas não porque ele tem paciência, mas porque ele é mau. Eu pergunto em francês e ele responde. Não repete mais.
Alias, hoje a moça do Louvre deve ter qchado um pouco estranho chegar uma pessoa falando francês, entregar um passaporte italiano, perguntar se tinha audioguia em português e, ja que não, pegar um em inglês (porque em italiano, havia).
Outras coisas de se reparar na Europa: a cerveja não é gelada, a soupa não é quente. E não venha com explicação de que é porque aqui é frio. Em Barcelona tava o calor da borra e mesmo assim, cerveja quente. As melhores eram as das sacolinhas dos paquis (taneses). O unico problema é que, quando a policia chega, eles as colocam no lixo (e depois pegam de volta, é claro). Mas la os ratos não têm leptospirose.
Bom, chega.
Bonne soirée.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Les nouvelles

Para os que me pediram noticias, aqui vão algumas, resumidamente (mesmo porque o teclado aqui é bem diferente).
Peripécias de Helô no metrô
Sempre me virei muito bem nos lugares e digo que qui a de la bouche, va a Paris! Minha confusão mental de antes das férias ainda me acompanha. Pra ilustrar, so o trajeto da casa do Rafael, em Barcelona, até o hostel, em Paris, é suficiente.
Desci do metrô pra pegar o trem até o aeroporto. Passei na roleta, comprei a passagem (pois não tem baldeação entre os dois) e voltei para o metrô. Sai do metrô, comprei outra passagem e, então, enfim, entrei no trem. Vale!
Em Paris. Sai do aeroporto, não podia comprar os bilhetes, pedi ajuda a um espanhol, a um francês, a outro, etc, etc, (até agora eles têm sido muito simpaticos) gastando os meus excusez moi, merci, etc, etc. Fiz uma baldeação bonitinha, como qualquer ser humano (pensei "aqui vai dar tudo certo"). Na segunda, desci do metrô e sai da estação. Tudo dizia que aquilo era a saida, mas pra que se guiar pelas informações ao invés de seguir o fluxo, não? Sai (vêem que me falta o acento agudo, ja que ele, pelo que encontrei aqui, so vem acompanhado da letra e). Mercadet des Poissoneiries. Me pareceu um bairro onde muitas movimentações noturnas acontecem. Pedi informações a uma (creio que) prostituta - muito bonita - que so falava inglês.
Bon, voltei pro metrô, andei algo relativo a três quarteirões embaixo da terra e, enfin, achei a linha 12. Lamarck Coulaincourt. Très facile!
Desci. Pelo que havia visto no google maps, o hostel ficava a dois quarteirões da estação. Pedi informação. Beleza e boa, segui. Rue Coulaincourt, numero deux.
Andei algo em torno de 6 quadras até chegar la (o que significa cerca de 10 quilômetros quando se esta com uma mochila de 12 quilos nas costas). Nada. Um predinho normal. Excusez moi novamente.Me viro e volto.
Seis quadras para o lado oposto. Excusez, excusez. Square Coulaincourt! ça n'etait pas RUE Coulaincourt! Vou, vou, vou. Volto para a quadra do metrô. Apesar de me terem dito "atravesse a rua", procuro o numero 2. Toco a campainha. Ninguém atende. Normal para um pais cujos habitos você não conhece, principalmente às quase duas da manhã.
Resolvi olhar pro outro lado da rua e la estava. Coulaincourt Hotel! Finalement!
Cheguei, francês, inglês, espanhol, português. Tem sido assim. Até italiano ja misturei.
Ta, Mohammed, so pego a toalha amanhã, so uso a internet amanhã e, ja que esta tarde (apesar dos muitos cafés e restaurantes proximos) so como amanhã.
Aux troisième. Subi as estreitas escadas circulares cobertas por um tapete vermelho todo desenhadinho (o hostel parece cenario de filme francês, desnecessario dizer a ultima palavra). Cheguei aux troisième. Quelle chambre? Não me lembrava mesmo. Deixei a mochila de 12 quilos (é de se enfatizar) e desci. Ultimamente tenho adquirido propriedades elasticas. Vou e volto com muita facilidade (melhor: frequência).
Bon, a ultima coisa que comi foi um saquinho de batatas fritas e uma coca no aeroporto antes de embarcar, às 19h mais ou menos. Quem me conhece sabe que isso não é opção minha. Não tinha algo rapido e salgado (não sou muito afeita a doces).
Me desculpem a estranha escrita. é ruim não poder concretizar as palavras como me passam (este teclado é realmente terrivel). De Barcelona eu conto depois (ou não, ja que é minha primeira postagem desde que criei este blogue).
Vou atras de um croissant.
Au revoir!