quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

quando o mar me engolir

eu vou rolar nas ondas, me afogar em conchas até sucumbir.
então, quem sabe, a água em sal me salve, feche o corpo e cure o mal que eu me mesma me fiz.
os grãos hão de esfolar as impurezas desta alma, arrancar-me a carne, deixar-me imprópria para o consumo sem alarde.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A beleza das nuvens

Um dos poucos dias em que tenho descanso, em que o tempo pára e me permite sentir a poesia da vida. As nuvens estavam bonitas, grandes, fofas, densas. A luz do sol refletia contornos dourados num céu de fundo azul forte.
Elas se moviam como em um filme em câmera lenta, ou em imagens corridas de fenômenos naturais como o brotar de uma flor. 
Deitada no quintal, pensava em qual seria minha trilha sonora para aquele experimentalismo.
Da janela do banheiro logo atrás de mim surgiu um peido.
A vida é bela e imprevisível demais. O acaso, capaz de compor paisagens maravilhosas.

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Entreguei-lhe o livro e disse que, desse sim, ele gostaria. Depois de ter lido um de meus autores preferidos - mas cuja obra entendo ser bastante específica, variável e, talvez, de um humano denso demais para pessoas leves na vida -, recebia uma das melhores narrativas de um dos melhores criadores literários deste tempo. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios.
Dizia a ele que não tomasse cuidado. De um furacão nunca nos esquecemos. Entramos na tormenta e tudo se passa de forma apaixonante, embriagada, doentia, capaz de remexer as entranhas.
De um capítulo  a outro é difícil parar. Sua falta é "como uma nuvem sinistra de abandono" que se estaciona em cima de mim. O Marçal nos amarra, obriga o leitor a continuar ali. Talvez seja metalinguagem. Me senti como um Cauby viciado em uma Lavínia. Queria viver aquela paixão, aquela doença.
Lembro de uma amiga que fora passar dois dias em casa. Impossível sairmos para uma cerveja, já que havia começado a ler o livro. Esperei que terminasse. Passara o dia grudada naquelas páginas. Imaginei o que sentiria ao pegá-lo, enfim. Precisava disto agora. E a cada dia suas palavras me convencem mais de o Marçal ser  um dos melhores autores.
Dele, eu recebo as piores notícias, uma tormenta sem a qual não há graça viver.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

0:00

acordo com esta tosse que quase me faz sufocar e penso que, se morresse aqui sozinha, numa noite baixa, não haveria quem pudesse notar. nesta ilha branca, isolada num quinto andar, me roda na cabeça as possíveis razões por sentir a energia vibrar tão pouca. minha luz, a força e referência do meu caminhar, parece arrefecer por sua própria protetora se esvair, aos poucos se distanciar. aquele pilar, a ponte em pedra, a âncora que finca mar, adquire sua leveza que paira e se esconde - fugidia - em seu mundo que, na verdade, em toda minha vida, nunca quis mostrar.