segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Le lundi

Estou comecando a gostar realmente deste lugar (cada teclado aqui eh de um jeito e ainda ontem a russa reclamava que nao conseguia trocar a configuracao pra letras de la). Existem coisas magicas por aqui. A comecar pelos jardins, pequenas galerias, cafes, ate chegar aos museus e exposicoes, livrarias, bibliotecas.
Hoje de manha, conversando com o Patrick (o canadense, que eh arquiteto), resolvi fazer um dia fora dos museus. Sao apaixonantes, mas estou um pouco cansada deles, apesar de tambem ter andado muito por ai.
Fui a Biblioteca Nacional Francois Miterrand (opa! comecou a tocar a musica que eu mais gosto do Francis Cabrel: pra quem nao conhece, conheca). Sao quatro predios em forma de L que formam os vertices de um retangulo. Entre eles, um vao todo em madeira e jardim. Os edificios sao de vidro e o que seriam cortinas sao portas de madeira dobraveis, que fazem com que, dependendo da luminosidade, clima e vontade de quem esta dentro, os predios fiquem com uma aparencia diferente. Mas estava fechada. Ate parece que ninguem estuda de segunda!
As livrarias daqui sao pirantes! Da proxima vez eu alugo um container pra mandar os livros pra la. Muita coisa de cinema, arte, fotografia, etc. A moca que trabalha no Cafe Bibliotheque, no mesmo predio, me disse que talvez eu encontrasse o que procurava na livraria da cinemateca. Boa ideia.
La entrei, procurei meu Rancierezinho. Enfim achei Le destin des images. Dei uma breve olhada ao redor e, quando estava pra ir embora, resolvi subir pra ver quale que era a do acervo. (Melina, como eu lembrei de voce!)
Ate agora eu estou quase que sem palavras (o que eh um paradoxo, ja que estou escrevendo). Aquilo eh demais! A moca (quse ruiva) que trabalha la me explicou tudo muito bonitinho (e eu entendi bonitinho tambem). Eles tem um sistema de busca em que voce consulta nao so o acervo da cinemateca nacional, mas de outras duas instituicoes. Livros, filmes, imagens, artigos, periodicos, etc, etc, etc. Demais! Alem disso, voce vai selecionando tudo o que te interessa, forma uma pasta sua a partir da qual voce pode buscar os arquivos e tirar copias. Anotei mil coisas (edicoes da Cahiers du Cinema desde o inicio!), mas, no fim, considerei que nao valeria a pena gastar mais umas horas e pelo menos 20 euros pra entrar na sala, tirar as copias e ter que carregar cerca de 100 paginas na sacolinha.
Aos poucos vai ficando muito obvia a diferenca das condicoes de pesquisa que se tem num pais como este. Volto a pensar em estudar aqui por algum tempo (quem sabe? depende da vontade e esforco que eu tiver quando voltar pra vida cotidiana, porque nestas condicoes eh facil pensar em mudancas).
De la fui au Jardin des Tuilleries. Tomei um chocolat a l'Ancienne na Angelina (indicacao do Patrick, que conhece as melhores docerias parisienses porque a namorada eh apaixonada por doces). Katia e Breno, quando vierem, voces vao adorar! Eh muito bom mesmo, mas deu minha cota de acucar pro mes (e ainda tenho que experimentar o creme brulle e os macarrons!). Ao meu lado, duas japonesas dondocas que so ficaram comentando sobre as pessoas que estavam ali.
Fiquei no jardim um certo tempo. Estava precisando disso. Foi bom.
Num restaurante, a mulher do casal sentado ao lado pergunta pro marido: o que aquela moca ali ta comendo? Ele: deve ser pesto. Eh, eu disse. E ele: voce entende? Sim, sou brasileira. E ela: ela estava escutando? Nao! Entendo mas nao escuto! E eu la sabia de que eles estavam falando? Ultimamente mal percebo quando tem alguem falando portugues por perto. Eh tanta lingua de uma vez. Mas, sim, eu a ouvi dizer que estava inchada.
Depois, la Tour Eiffel! Enfin!
A melhor decisao da semana foi ter escolhido a segunda-feira. Demorei 40 minutos ate chegar ao alto da torre (o que deve ser um recorde). Fui pra ver o por do sol. Depois disso fiquei esperando pra conferir o porque de ser a Cidade Luz. No que eu encontrei um casal de brasileiros, que engataram a conversa e la ficamos ate depois das 10h. Me ofereceram vinho, contaram da viagem pela Europa, deram dicas. Goianos. So podia!
Voltei.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dimanche

Hoje logo cedo resolvi ir à feira de que o Lala me havia falado (sim, Rodrigo Bulamah, você mesmo). Au metro de la Nation, me disse. La fui eu. Baldeia pra ca, baldeia pra la, à procura dos orgânicos (so pra ver, porque, é claro, eu nao ia cozinhar), queijos direto das fazendas, cidadãos franceses num ensolarado domingo de manhã, etc. Desci à la place de la Nation. Monsieur, est-ce qu'il y a un marché prêt d'ici? Non, madame. Pas aujourd'hui. Ahn... Merci!
Ai ele me indicou que pegasse o ônibus 86 até a Bastille que por ali haveria uma, grande. Resolvi ir a pé. As pessoas normalmente acham os lugares longe (aha! e ai esta novamente a questão tempo-espaço, porque num dia comum caminhar ate la seria impossivel).
No caminho encontrei um café muito simpatico, com donos jovens muito simpaticos tambem (hoje foi o dia de desinjuriar dos franceses). Dali a pouco, uma livraria pequenica, mas cheia de arte, cinema, filosofia. Rancière? Non. Guy Debord (desgraça!), oui, ali estava. Um grande amigo - que, ja dizia a critica, vale por mais de dez - me pediu para, se possivel, comprar l'Oeuvre. 1901 paginas. Pra quem esta viajando de mochila, não é um mero detalhe. Mas não aguentei. Imagino que esse livro no Brasil (não me lembro se existe tradução) valeria, no minimo, 4 vezes mais, o que, dependendo de um esforcinho meu, poderia ser economizado. E então passei o resto do dia com um quilo de feijão na mão (ja que na minha mochila cabe pouco mais do que minha câmera). Dalma, pra compensar isso você vai ter que, no minimo, me levar de cavalinho até o Gatti!
Cheguei a uma outra feira que nao a que o homem da la Nation me indicou, mas que também ficava na Bastille. Eu acho muito, muito legal ver tanto tipo de queijo (tem coisas com as quais eu acho demais não nos acostumarmos). Comprei um estilo de parmesão (ao menos pra mim é parecido), so que laranja. Um dos poucos que podem ficar fora da geladeira (quase engasgando nos érres, mas consegui fazer essa pergunta em francês).
Então fui pro Pompidou. Ah! Pra isso pedi informação pra mais uma das muito simpaticas pessoas do dia e, pra exercitar a mundana rotulação do mundo, estou elaborando um pressuposto de que francesas de cabelos vermelhos sempre são simpaticas (pra voltar para o hostel no fim do dia, mais uma vez tive essa confirmação).
De novo aquela surpresa de ah! que prédio grande! sera que é o Pompidou? Mas desta vez era.
Hoje a visita durou 5 horas. So vi a exposição temporaria Elles, com obras de artistas mulheres. Fantastica! (seria vergonhoso eu não falar isso depois de dizer que passei tanto tempo la). Uma das que mais gostei foi Heartbeat, de não me lembro quem - logo escrevo, mas não sou conhecedora das artes visuais e o nome dela ta la em cima no quarto (Nan Goldin). O trabalho é um video, com trilha da Björk (!), que exibe fotos de varios casais em momentos intimos, pré, durante ou pos-sexo. A composição é de uma sensibilidade tão grande! Tive a sensação de que toda a sala ficava entorpecida. Entre os casais fotografados havia um de adolescentes, um hetero entre os 30 e 40, um casal gay (de homens) e outro entre os 40 e 50. Tudo muito delicado e com uma luz muitissimo bem trabalhada. Nossa! Acho que um dos melhores que ja vi.
Havia também uma Lygia Clark ali. O Caranguejo. Imaginei que aquilo em movimento devia ser bem mais interessante.
Subi pro acervo permanente, mas não dei conta. Corri pra ver uns Picassos, Matisses, Mondrian, Miro, Modigliani, Lérger... mas não me atentei.
Na saida comprei o catalogo (Sérgio, era pra conversar com você a respeito). Quando cheguei ao hostel, abri pra rever algumas coisas e eis que! A maioria dos trabalhos que estão ali eu não vi!!! Como assim? Eu achei que tivesse visto tudo. E o Heartbeat não ta la não. Bom, ainda serve pra conversarmos. Alias, tem um (ou uns) que me lembraram muito o seu trabalho.
às 6h (nunca começo frases com à ou é em letra maiuscula porque se se aperta o shift, elas viram outra coisa) eu almocei/ jantei e achei que fosse ver o pôr do sol na Eiffel. Melhor deixar pra um dia de semana. Mas a razão maior foi a dor nas costas. Estou virando atleta por aqui, o que é bom, ja que a comida por aqui é tentadora. Se bem que mal tenho parado pra isso. Comer tem sido o momento de (além de comer, é claro) sentar, escrever alguma coisa, fazer mil expressões faciais achando que o garçon vai me entender assim e por ai vai.
Hoje conversamos mais no quarto. A nigeriana que eu havia conhecido no primeiro dia, uma russa muito gente boa e, agora, um canadense que perguntou is it a mixed room? Ao que eu respondi it wasn't 10 minutes ago, but now I think it is.

sábado, 29 de agosto de 2009

a novela continua

Em Barcelona descobri que eu tenho um tempo muito proprio (no fundo eu ja sabia, mas agora é consciente e eu passo a admitir isso). Nao gosto dessa historia de acordar, levantar, sair correndo pra chegar sei la aonde, voltar e por ai segue. Ainda mais aqui que o ritmo depende so de mim (e do horario das coisas, é claro, mas se eu perder, perdi). A vida deve ser experienciada.
Sempre soube que era balela essa historia de que se leva um dia pra conhecer o Louvre. Cheguei la pouco depois das 10h, sai as 5h30 (hora em que o museu fecha) e não conheci um sexto do acervo! Aquilo tudo leva uma vida inteira pra ser visto - e isso nao tem a ver com o meu tempo proprio, mas com o tanto que ha em cada peça.
Comecei pelas esculturas classicas. Parece que os fatos, os contextos começam a fazer sentido. é tanta historia concretizada bem na sua frente... inclusive o proprio fato de as obras estarem ali.
Muita coisa passou pela minha cabeça. Em primeiro, sobre a importancia de termos acesso ao patrimonio historico. Assim se adquire conhecimento. Em segundo, sobre o absurdo de haver peças de toda (ou parca) parte do mundo em uma instituição francesa. Dizem que tal peça foi encontrada em tal lugar. Mas como foi essa "descoberta"? Ali estah um pedaço de um muro com a palavra "restaurado". Se fosse realmente restaurado, não seria um muro? Mas então ele teria que estar em outro lugar.
Daqui a pouco vão começar a encontrar arte no Iraque pra ser restaurada.
Saindo de la, fui andando pela Rue de Rivoli à procura da Notre Dame (que, em portugues, nao passa de Nossa Senhora). Pra quem tem compulsao por compras, Paris pode ser perigosa.
Segui andando, pensava em perguntar onde ficava a igreja e via uma construção muito grande à minha frente, entao ficava com vergonha de perguntar sendo que podia ser bem ali. Passava na frente e nada! Dali a pouco, a mesma coisa. O problema é que a cidade em si é um monumento!
So tive certeza de que havia chegado ao lugar certo quando vi os monstrinhos com asas em cima da construção.
Sempre ouvi que na França os franceses não falam inglês. Segunda balela do dia. Eles não têm é paciência de falar francês com quem não tem fluência. So o Mohammed é que me incentiva. Mas não porque ele tem paciência, mas porque ele é mau. Eu pergunto em francês e ele responde. Não repete mais.
Alias, hoje a moça do Louvre deve ter qchado um pouco estranho chegar uma pessoa falando francês, entregar um passaporte italiano, perguntar se tinha audioguia em português e, ja que não, pegar um em inglês (porque em italiano, havia).
Outras coisas de se reparar na Europa: a cerveja não é gelada, a soupa não é quente. E não venha com explicação de que é porque aqui é frio. Em Barcelona tava o calor da borra e mesmo assim, cerveja quente. As melhores eram as das sacolinhas dos paquis (taneses). O unico problema é que, quando a policia chega, eles as colocam no lixo (e depois pegam de volta, é claro). Mas la os ratos não têm leptospirose.
Bom, chega.
Bonne soirée.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Les nouvelles

Para os que me pediram noticias, aqui vão algumas, resumidamente (mesmo porque o teclado aqui é bem diferente).
Peripécias de Helô no metrô
Sempre me virei muito bem nos lugares e digo que qui a de la bouche, va a Paris! Minha confusão mental de antes das férias ainda me acompanha. Pra ilustrar, so o trajeto da casa do Rafael, em Barcelona, até o hostel, em Paris, é suficiente.
Desci do metrô pra pegar o trem até o aeroporto. Passei na roleta, comprei a passagem (pois não tem baldeação entre os dois) e voltei para o metrô. Sai do metrô, comprei outra passagem e, então, enfim, entrei no trem. Vale!
Em Paris. Sai do aeroporto, não podia comprar os bilhetes, pedi ajuda a um espanhol, a um francês, a outro, etc, etc, (até agora eles têm sido muito simpaticos) gastando os meus excusez moi, merci, etc, etc. Fiz uma baldeação bonitinha, como qualquer ser humano (pensei "aqui vai dar tudo certo"). Na segunda, desci do metrô e sai da estação. Tudo dizia que aquilo era a saida, mas pra que se guiar pelas informações ao invés de seguir o fluxo, não? Sai (vêem que me falta o acento agudo, ja que ele, pelo que encontrei aqui, so vem acompanhado da letra e). Mercadet des Poissoneiries. Me pareceu um bairro onde muitas movimentações noturnas acontecem. Pedi informações a uma (creio que) prostituta - muito bonita - que so falava inglês.
Bon, voltei pro metrô, andei algo relativo a três quarteirões embaixo da terra e, enfin, achei a linha 12. Lamarck Coulaincourt. Très facile!
Desci. Pelo que havia visto no google maps, o hostel ficava a dois quarteirões da estação. Pedi informação. Beleza e boa, segui. Rue Coulaincourt, numero deux.
Andei algo em torno de 6 quadras até chegar la (o que significa cerca de 10 quilômetros quando se esta com uma mochila de 12 quilos nas costas). Nada. Um predinho normal. Excusez moi novamente.Me viro e volto.
Seis quadras para o lado oposto. Excusez, excusez. Square Coulaincourt! ça n'etait pas RUE Coulaincourt! Vou, vou, vou. Volto para a quadra do metrô. Apesar de me terem dito "atravesse a rua", procuro o numero 2. Toco a campainha. Ninguém atende. Normal para um pais cujos habitos você não conhece, principalmente às quase duas da manhã.
Resolvi olhar pro outro lado da rua e la estava. Coulaincourt Hotel! Finalement!
Cheguei, francês, inglês, espanhol, português. Tem sido assim. Até italiano ja misturei.
Ta, Mohammed, so pego a toalha amanhã, so uso a internet amanhã e, ja que esta tarde (apesar dos muitos cafés e restaurantes proximos) so como amanhã.
Aux troisième. Subi as estreitas escadas circulares cobertas por um tapete vermelho todo desenhadinho (o hostel parece cenario de filme francês, desnecessario dizer a ultima palavra). Cheguei aux troisième. Quelle chambre? Não me lembrava mesmo. Deixei a mochila de 12 quilos (é de se enfatizar) e desci. Ultimamente tenho adquirido propriedades elasticas. Vou e volto com muita facilidade (melhor: frequência).
Bon, a ultima coisa que comi foi um saquinho de batatas fritas e uma coca no aeroporto antes de embarcar, às 19h mais ou menos. Quem me conhece sabe que isso não é opção minha. Não tinha algo rapido e salgado (não sou muito afeita a doces).
Me desculpem a estranha escrita. é ruim não poder concretizar as palavras como me passam (este teclado é realmente terrivel). De Barcelona eu conto depois (ou não, ja que é minha primeira postagem desde que criei este blogue).
Vou atras de um croissant.
Au revoir!