segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

1- Cabeça a prêmio, do Marçal Aquino

Merece o topo. Depois de te-lo lido, passei alguns dias (senão semanas) a imaginar pessoas com armas ao meu lado ou que tavez fosse corriqueiro um assassinato. Não. Fui transportada pela narrativa e comecei a pensar em de que modo, talvez, eu não pudesse me considerar uma pessoa esquizofrênica. Esse livro é daqueles que se começa a ler e não se pode mais parar até terminar - o que te deixa desolado.
Afinal, a narrativa te faz entrar em um ciclo ao qual você (provavelmente) não pertence, mas que passa a compartilhar e possivelmente a desejar fazer parte dele. O Marçal consegue construir um mundo sedutor, apesar de sua tremenda hostilidade.
A capacidade do escritor em construir personagens paradoxais é enorme, o que me fez me apaixonar pelo Brito, um matador cujo único amor foi uma prostituta. Apesar de fechado, nos é mostrado um lado muito humano desse personagem.
Os capítulos não seguem uma ordem e o mais impressionante foi saber que esse quebra-cabeças foi escrito como publicado pelo autor.
Eu diria no imperativo mesmo: leia.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

2- Um crime delicado, do Sérgio Sant'Anna

Tenho a tendência de gostar de sarcasmos, de coisas aparentemente belas, delicadas e que, na verdade, são densas, sujas, criminosas, remexem as entranhas. O Sérgio Sant'Anna é assim.
Com certeza, a maior das descobertas de 2008! (Tá, ano anterior, mas merece e, assim, me eximo de culpa por não compará-lo aos de 2009).
Com ele elaborei a teoria do campo de energia dos livros. Quando te pegam pra valer, é como se houvesse um campo de energia que não te deixa passar incólume pelo mesmo ambiente em que esteja. Com este e O Monstro foi assim. Ali estavam num canto do sofá quando eu tinha que fazer outra coisa mais urgente, mas não conseguia passar sem olhar, sem sentir aquela atração física e, em grande parte das vezes, parar um pouco até me arrancar forçada de perto deles.
Neste, um crítico de teatro divaga sobre seu cotidiano, sobre seu trabalho, as mulheres com quem se envolve e os homens ligados a elas. Extremamente crítico, sagaz. Adoro sua ironia e a subjetividade que cria para um sujeito cujos pensamentos acompanhamos voyeuristicamente. 
A narrativa é construída pelo personagem a partir de seu ponto de vista e, com o ritmo dos acontecimentos já vividos, a história se revela aos poucos, como a que um amigo conta tentando nos convencer de sua razão para determinado fato.
O livro é tenso, cria um suspense que não te deixa sair.
Transcriado para o cinema com adaptações consideradas adequadas à linguagem, a história perdeu. O filme é ruim, não consegue criar a densidade, o incômodo que o livro nos proporciona. Claro, "não devemos compará-los livro e filme", mas a qualidade é gritante. Beto Brant e Marçal (talvez, já que não li o roteiro) desandaram dessa vez.



3- RASIF - Mar que arrebenda , do Marcelino Freire

Se o Mutarelli foi uma boa supresa, o Marcelino foi a descoberta de uma flor rara que nasce na mata e que todos desejam. Não apenas pela sua escrita, prosa poética, ritmada, que samba leve na lama, afunda os pés com gosto em um mangue que se confunde com um banho de argila. O cara reluz, contagia, traz à tona as verdades sutis de um mundo poético.
Seu imaginário passeia por uma Recife à margem, pedregosa e hostil, de onde emergem pessoas, falas, vidas em versos. Dali a São Paulo, onde vive há alguns bons anos, as palavras passeiam acertivas.
Além de escritor, anima a Literatura (e outros cantos) deste país. É um dos idealizadores da Balada Literária, entre outras tantas.
O livro é rápido, ágil, intenso. As ilustrações do Manu Maltez, em gravura, completam a obra com sua beleza nervosa e incômoda.
Foi minha indicação para presentes.