quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

4- O Cheiro do Ralo, do Lourenço Mutarelli

O Mutarelli foi uma surpresa boa no ano passado, quando li o primeiro (meu) livro dele, A Arte de produzir efeito sem causa. Supresa ou moléstia, congestão, crise de pânico, impulso pra fora da órbita, seus livros me pegam pelo estômago e deixam em outro estado de consciência por determinado tempo (que retorna sutil quando me lembro deles).
Sua escrita é muito ágil, entrecortada por pontos e referências. De Burroughs a cartas de tarô, o cara sabe de muita coisa estranha e constrói um mundo à parte. Talvez melhor: ele mostra o seu mundo, já que ele próprio pertence ao universo de que escreve e normalmente é o protagonista de suas histórias.
O Cheiro do Ralo é assim. Construída em primeira pessoa, a narrativa se dá pela visão do personagem principal (mais uma vez sem nome), um comprador de objetos antigos/ raros/ excêntricos, que vive atormentado pelo cheiro do ralo do banheiro de sua loja e passa a relacionar todos os seus problemas ao odor que sai do esgoto. Além disso, ele se apaixona por uma bunda, compra um olho de vidro e começa a reconstruir o corpo do seu pai.
A ideia inicial não era essa, mas o Mutarelli virou ator do filme (o segurança), o que deu outra cara à versão. 
Eu colocaria nesta lista outros livros dele (principalmente A Arte de produzir efeito sem causa e O Natimorto, que acabou de ser lançado no cinema), mas achei melhor optar por este pra justificar minhas outras escolhas.
Não podia deixar de fora, já que virou tema do meu projeto de mestrado. O livro e o filme.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

5- Comer, Rezar, Amar, da Elizabeth Gilbert

A escritora faz um relato da sua viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia à procura de respostas a questões sobre si mesma (por acaso, muito compartilhadas) logo após um divórcio traumático. Na Itália, se permite desfrutar do prazer (daí se exclui o sexo), da comida e do idioma. Na Índia, passa meses em um ashram para rezar e descobrir a si mesma. Em Bali, ela vai procurar um xamã que conheceu havia dois anos e que, lendo sua mão, dissera que se reencontrariam.
Está demorando pra eu admitir que esteja lendo um livro classificado como autoajuda, mas isso, obviamente, depende do viés de que se olha para ele. O problema está no mercado que estampa na capa suas características de autoajuda: milhões de cópias vendidas (4), tempo em que figurou entre os mais vendidos no New York Times (1 ano), além de um fingido subtítulo "Seja também a heroína de sua própria jornada". Esse último é imperdoável. Tanta gente que lê essas coisas achando que sirvam de modelo pra sua própria vida. A escritora, em uma entrevista a um programa dos Estados Unidos, disse que leitoras escrevem pra ela dizendo "Olha, já fui pra Itália, comi a pizza de que você falou, e agora?". Dá licença, né?
Enfim, a autora constrói a obra a partir dos seus pensamentos, das suas experiências, que dialogam com muitas referências filosóficas e da ioga sem pretender se aprofundar nisso, mas que mostram a partir de quê ela pensa. Achei bastante interessante, li muito rápido, a linguagem é fácil, descontraída (apesar das piadinhas estadunidenses que não fazem muito o meu estilo de graça) e apresenta coisas novas, paisagens, pessoas. A revisão é um pouco fraca. Acho que na tentativa de tornar a leitura "fácil", relaxaram na gramática.
Este eu elegi por ser diferente das leituras que faço normalmente. Também me permiti esse pecado.

Os cinco topos do ano

Ao invés de top five, elegi os cinco livros do topo deste ano, baseados, é claro, nas minhas leituras.

As cinco boas coisas de ontem

1- Ter chegado na casa dos meus pais pra passar uma semana (coisa que não faço há anos)
2- Ser recebida pela Iaiá com a costumeira festa, pulos e gritos
3 - Continuar a ler meu livro de autoajuda (já falo dele)
4- Sair com minhas primas engraçadíssimas pra falar besteira e discutir assuntos filosóficos (literalmente)
5- Tomar um Rimbaud (em que, por sinal, vai Absinto)

As cinco boas coisas de antes de ontem

1- Tomar banho ouvindo o último cd do Cidadão Instigado que baixei na noite anterior
2- Chegar ao trabalho e encontrar um café da manhã coletivo com gente muito animada
3- Ter conversado sobre mil coisas com a Claudinha e pensado, juntas, em um Clube do Livro com as pessoas do trabalho
4- Dar muita risada com a Ju e a Gabi
5- Sair com amigos e voltar pra casa dançando dentro do carro