sábado, 17 de julho de 2010

rediários

Ontem assisti ao sol nascer a 11 mil metros de altitude. De cima, as nuvens parecem nos dar a dimensão da finitude do céu, como as ondas dão a do mar.
E eu que também não sei quase nada do mar, vim à terra de Caymmi e de Bethânia descobrir um pouco mais sobre mim.
De cara, a descoberta foi de que em Salvador nada (ou quase) se faz debaixo de chuva. Pois foi assim que me deixei estar pela tarde, tentando me recuperar das poucas duas horas de sono daquela noite em que viajei.
A boa primeira surpresa foi logo na saída. Já que, como sempre, não fiz tudo o que queria antes de partir e que uma dessas pendências era escolher (ou comprar) um livro de um baiano para a viagem, tive que escarafunchar as La Selvas dos dois aeroportos. Na primeira delas, nada que eu quisesse ou tivesse condição de aproveitar. Na escala em Belo Horizonte, encontrei 1984 e um Paul Auster. Como boa libriana - como diria a Melina -, comecei a pesar todos os prós e contras de um e de outro, tema, proximidade com o que se passa comigo e meus interesses, preço, primeiro parágrafo... por fim, nem me lembro por que (mas poderia citar várias razões agora), fiquei com Invisível. Fazia meses que eu queria e não encontrava um romance que me prendesse tanto, assim como fazia tempo que eu tinha interesse em conhecer algo do Paul Auster. Matador.
O Hostel aqui é bem bacana. Às vezes me surpreendo porque, apesar de me considerar tímida, como certa vez me disse o Dalmoro, eu chego a ser simpática com o cara que vende ingresso pra churrasco de engenharia na porta do bandejão. É claro, lá fui eu puxar assunto com todos. Pra variar, muito gringo (nenhum Brian por enquanto!).
É curioso como cada um se relaciona com seus medos. Vejo muita gente entregando os perigos ao colo do outro. Um austríaco me disse que não tinha saído nenhuma noite no Brasil porque achava perigoso, uma conhecida havia sido assaltada. A gente vive aqui, eu disse. Acho que é preciso encarar o mundo. É claro que tudo pode acontecer e que há más coisas, mas quais são nossos limites? Hoje ríamos porque ninguém me infernizou no Pelourinho, não coloquei fitinha do Senhor do Bonfim no braço, não insistiram, não me pediram dinheiro. É minha cara de baiana ou o corpo fechado.
Pois bem, logo cedo lá fomos eu e meu novo amigo agrônomo de Itapeva que mora em Feira de Santana para o Palacete das Artes ver a exposição do Rodin. Eu já gostava dele, mas ver esses trabalhos de perto, como sempre, me fez ter mais interesse pela obra. Sem contar toda a dedicação à Divina Comédia. Fiquei pensando o quanto de movimento expressivo aquelas esculturas não poderiam gerar (pois já é isso que elas provocam estáticas). O espaço também é lindo. Mais por fora do que por dentro, já que as pinturas no teto e nas paredes chegam a pesar sobre o trabalho exposto.
Depois, fui pro Mercado Modelo, elevador Lacerda, Pelô, igreja, igreja, igreja. A de São Francisco é mesmo impressionante. Mas grande parte das igrejas são. Mais me chamou a atenção a sala dos santos. Quatro paredes da grande sala rodeadas por vários manequins com perucas, pedaços faltando. Uma coisa horrorosa! Ao mesmo tempo, uma mulher franzina de cabelos loiros armados abordou duas meninas: Vous êtes françaises? Eram. Então venham, aqui tem mais uma parte que vocês precisam conhecer (óh bondade humana). Não, a gente não quer. E a mulher ficou insistindo, as meninas foram saindo e, por fim, eu naquela sala dos santos com a doida se dirigindo às francesas Vous pensez que vous êtes meilleures! Vous êtes pauvres! Como é difícil lidar com a frustração, não?
Mais tarde, no MAM pro jazz ao pôr do sol, lá estou conversando com uma soteropolitana amiga de uma sorocabana e... Letícia e Leandro! Coincidências da vida, um casal de amigos de Campinas.
É como tomar uma cerveja na Auguta: 90% de chance de encontrar algum conhecido. Pessoas em comum circulam pelos mesmos lugares.
Pois fomos comprar os ingressos e... Giovani??? O Giggio, nosso famigerado bixo, agora mora em Salvador.
É encantadora uma jam com vista para a Baía de Todos os Santos.
Espero que amanhã não chova e que haja coentro.
Axé!

Um comentário:

Unknown disse...

Queria estar aí contigo. Posso ouvir cada palavra sua, ver cada imagem que você muitíssimo bem narra. O Giggio? Meu deus, vixe maria, mundo pequeno de dar medo!
Eu já fui nesse jazz, me lembrei agora com sua narrativa. Tem um cafezinho muito aconchegante aí, não é? E a vista da Baía é mesmo de embriagar. Saudade de tu, saudade da Bahia.