segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Eu queria saber o que se passa com você,
comigo,
com o mundo.


Queria eu saber o que se passaria com você
comigo
com você.


Passaríamos nós?

O mundo passaria?

Passaria o mundo?



Comigo com você, passaria?

sábado, 28 de maio de 2011

Querido Papai Mario Salvador Pisani,

farei uma breve resenha de como foi tenebroso este meu dia de hoje para, ao final, fazer-lhe um apelo.
Estava eu preparando um apetitoso macarrão para minha solitária janta quando me deparo com quem? Uma barata.
Depois de tanto matar baratas nesta casa passei a temê-las, porém ainda a segui até a sala de jantar onde tentei lhe deferir um golpe, em vão. Fugiu para o banheiro de visitas onde espero que o rato que lá habita há anos a coma, passe mal e também morra. No entanto,  também temos que admitir a hipótese de que essa barata seja bastante nutritiva e dê as forças que faltavam para o rato finalmente estourar aquele ralo e adentrar nosso humilde lar.
De acordo com a teoria darwinista da seleção natural, eu realmente acredito na hipótese acima, afinal, para a barata que eu encontrei hoje na cozinha conviver com a que eu acabei de encontrar no nosso banheiro, tem que ter uma força física ou intelectual bastante grande, e vou dizer por quê: esta última, além de voar, tem aproximadamente dez centímetros de comprimento por três de largura, antenas assustadoras, era possível ouvir seus passos em alto e bom som e, o pior de tudo, é incrivelmente destemida, pois, assim que me viu, partiu para o ataque. Numa atitude desesperada - já que me é clara a impossibilidade de enfrentá-la - fechei a porta e coloquei uma toalha para tentar evitar uma possível fuga para os demais cômodos da casa - tais como os quartos onde sua família tentará repousar esta noite -, contudo, acredito que tenha o conhecimento de que as baratas são animaizinhos extremamente flexíveis, portanto, capazes de ultrapassar qualquer barreira imposta por nós, humanos.
Dessa forma, peço, suplico, imploro, que alguma medida seja tomada. Esta casa é muito pequena para acomodar todos nós e, gostaria de não ter que dizer isto, mas você terá que escolher. Ou elas saem, ou eu saio!
Sua filha, Heloisa Pisani.

São Carlos, 31 de janeiro de 2004.    (2h23 da madrugada para o dia 01/02)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

overdose de fim

as plantas reclamam da ausência, assim como eu sinto falta de mim.
reclamo, fumo, revolto, eu penso e tento entender uma vida em overdose de fim.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

infindos

é exata zero hora e o calor da madrugada me contorna e corpo e faz lembrar, sofrer saudade, do calor que o seu me faz sentir, dos seus pêlos, da sua barba, das suas costas, de você inteiro deitado, se virando de lado pra lado, aquela quentura toda, úmida, doída, que de dor faz prazer, dos seus gemidos e resmungos, seus braços em volta de mim, seu ombro que me faz travesseiro, seu suor. suas perguntas na madrugada, seu sono de manhã, me afasto e recomeço. um sonho e um beijo. um trabalho e um descanso. o sofrimento e a paixão. eu e você. lá e cá. aí e aqui. ser e estar. saber que estar é mundo, transitório e infinito.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Boipeba

hoje o dia amanheceu lindo, o que muda totalmente as paisagens.
logo cedo, enquanto tomávamos café na varanda, o Felipe passou aqui com sua prancha nos convidando para ir a Moreré - o que, a princípio, era meu plano -, mas resolvi ir a Cueiras com o Armani, que ainda não havia estado lá. depois, aguardando a maré baixa para atravessar o rio, fomos pra Moreré, a praia ao lado.
observar o ritmo da natureza e poder definir interações a partir disso é uma coisa maravilhosa que, num outro contexto, nunca é possível. maré alta, maré baixa, chuva, acho isso bonito.
a praia é linda, água clara, pedras, muitas piscinas naturais. paramos por ali pra almocar e fiquei pensando que aquela paisagem se assemelhava com que muitos considerariam paraíso (ainda mais com tantos urubus rodeando uma carcaca de baleia que estava por ali).
observacao: só pra nao sentir saudade das contacoes do ano passado, desta vez estou com um teclado argentino.
dali, maré já cheia, comecamos a voltar pela vila de Moreré, lugarzinho bucólico de onde as criancas saem de trator para a escola. cruzamos com tres deles voltando para o povoado. a trilha nao é tao curta assim. sobe morro, desce morro, vistas lindas, só o som do mar e dos pássaros, partes alagadas por onde só o trator passa. devemos ter demorado uma hora e meia mais ou menos. andamos tanto que cheguei com o pé mais do que esfoliado. agora tenho que cuidar mais dos meus passos.
à noite, fomos a um bar logo ao lado onde estavam os espanhóis, brasileiros e argentinos que trabalham em um reality show que está sendo filmado aqui. sao seis casais que precisam reformar uma pousada e que tem algumas provas, desafios, essas coisas.
dali a pouco, apareceu um trio daqui, já altos, com um violao cantarolando várias músicas. adoro.

terça-feira, 27 de julho de 2010

paca, tatu

hoje a paz voltou a reinar em minha cabeça.
seguindo minhas preces, São Pedro enviou poucas nuvens à Bahia e, então, saímos para Boipeba. tendo internet sem fio, Armani resolveu vir junto - pois ele precisa trabalhar.
rumamos à lancha e, quando chegamos, ele desistiu com medo de molhar seu violão e o computador. então tchau. sorry. no problem. sem contatos, sem nada.
aí lá estou eu pensando na vida antes da lancha sair quando volta Armani, violão já metade molhado. nem perguntei o porquê da mudança, mas, enfim, ele ficou mal humorado pelo resto do dia. isso teve lá seu lado bom.
aqui chegando, lá fui eu pra praia sozinha. Tassimirim, onde fica? pra lá. não havia ninguém no caminho. comecei a me lembrar da "cosmologia" da Ilha (Comprida), onde meus tios têm casa e onde passamos parte da infância. parecia o paraíso, mas pouco a pouco, cada um de seus personagens foram morrendo assassinados.
pois bem, eu ali na estradinha de areia, sozinha, pensando se devia prosseguir ou não. o barulho do mar ali pertinho (mas no deserto também há miragens). cruzei com um rapaz de carroça que me informou - não, esta é a Cueiras, a Tassimirim é pra lá.
Cueiras, eleita uma das 10 praias mais bonitas do mundo (sabe-se lá por quem). de fato, este lugar é lindo demais!
a praia, quase vazia, tem a areia muito fina e clara e é toda cercada por coqueiros.
um rapaz passa e - vamos surfar? - não, obrigada. apesar de que eu sempre ter querido surfar, mas não era hora.
depois de um tempo, ele me chama de novo - quer coco? a gente vai pra Boca da Barra e vai pegar uns cocos. aceitei.
nada melhor do que andar com um nativo. o Felipe é professor de surf e mergulhador de resgate - além de pescador. me mostrou vistas lindas pelo caminho e o lugar para onde ele vai quando fica estressado. - você consegue ficar estressado aqui?
passamos por Tassimirim também e entramos no sítio do pai dele. tomamos coco, vi toca de tatu. - que animais vivem por aqui?
- muitas aranhas, jiboia, paca, tatu [cotia não?], tatu peba (que, dizem, come defunto), saruê [é isso que a Iara Rennó canta?], e o tal do joão pará, um bicho parecido com macaco mas que não é macaco, anda em duas patas e tem um rabo enorme. tem um homem por aqui que tem apelido de João Pará e que, quando o chamam assim, corre atrás da molecada com o facão. nunca pegou um.
a Boca da Barra é onde o mar se encontra com o Rio do Inferno. Morro de São Paulo era o ponto em que os portugueses protegiam nossas terras contra os holandeses. quando estes últimos encontraram o rio, passaram a tentar entrar por ali. como há muitos bancos de areia, os barcos encalhavam e os tripulantes eram atacados por indígenas canibais. daí o nome.
o Felipe e os dois amigos dele (o Gambá e o Gilson - acho) são descendentes de tupinambás, me disseram.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

as cores da Bahia (e a trilha sonora também)

no primeiro dia em Morro, o sol se abriu. fiquei impressionada com a tonalidade da água, da areia, dos coqueiros, do céu, das peles. não precisaria enganar fotometria alguma.
uma pena que tem sido assim poucos dias. chove muito por aqui estas semanas e, quando as nuvens se afastam, corremos pra praia. então chove, pára, chove de novo, cada vez em uma intensidade.
Morro é um ligar bonito, mas com tanta chuva, fica difícil explorar a ilha. outras questões também são importantes. como este lugar é turístico! é impossível andar por aí sem ser abordado a cada 10 metros por alguém que quer que você beba alguma coisa, coma alguma coisa, visite algum lugar, etc, etc, etc.
a segunda praia é cheia de bares, restaurantes, pousadas, hoteis. a moda aqui é música ao vivo. de preferência, o mais alto possível. assim, onde quer que esteja, você ouve ao menos três músicos de uma vez. repertório: Tim Maia, Só pra contrariar, Ana Carolina, Calipso, entre outras boas e muitas não.
hoje resolvi me embrenhar pelas ruazinhas. assim descobri as pessoas que moram aqui, outras pessoas que não apenas as que encontro na praia, nos bares que não frequento.
espero que amanheça com bom tempo. sigo para Boipeba.